A fala do vaqueiro: a linguagem que ecoa das veredas de Teofilândia
- Agência Eco
- 27 de mai.
- 2 min de leitura
No sertão baiano, onde o sol molda a paisagem e o vaqueiro traça sua história entre espinhos da caatinga e aboios no ar, existe um patrimônio invisível, mas essencial: a língua do vaqueiro.
Este é o foco da pesquisa da linguista Lílian Peixoto, que mergulhou no cotidiano dos vaqueiros de Teofilândia para revelar a riqueza de um léxico próprio, repleto de saberes, experiências e resistência cultural. Em suas palavras, “documentar a fala do vaqueiro é preservar uma identidade que corre o risco de desaparecer”.
A autora gravou entrevistas, cantigas e narrativas desses homens do campo, analisando como eles nomeiam o gado, descrevem o sertão, cantam suas dores e orgulhos. Palavras como gibão, aboio, res, pernera e peia não são apenas termos técnicos — são marcadores de pertencimento, símbolos de uma profissão, de um estilo de vida e de uma visão de mundo.
“Esses meninos novos que tão vindo aí, eles num vão sabê nem o que que é um gibão...” — Vaqueiro Fernando Marinho
A pesquisa mostra que o vocabulário do vaqueiro vai muito além do campo: ele revela valores, crenças, relações com a terra e com os animais. A linguagem do vaqueiro é uma ferramenta de trabalho, sim, mas também um canto de amor à liberdade e à bravura do sertão.
Além disso, a autora aponta que o léxico sertanejo ajuda a compreender a evolução do português brasileiro no interior do país. Cada palavra carrega uma carga histórica, cultural e emocional — uma espécie de mapa linguístico de um povo.
💬 Destaques do estudo:
O vocabulário do vaqueiro é técnico e afetivo: mistura nomes de raças, ferramentas e sentimentos.
As cantigas e aboios formam uma tradição oral de valor inestimável.
A fala do vaqueiro revela a ligação profunda com o ambiente, o gado e a fé.
Essa linguagem única está desaparecendo com a modernização do campo.
🔍 A fala do vaqueiro, segundo a autora, é uma “língua especial” — viva, criativa, cheia de nuances. É como um aboio ecoando no tempo, que ainda pede para ser ouvido.
📝 Fonte:PEIXOTO, Lílian Marilac Cornélio de Freitas. A fala do vaqueiro do sertão baiano: análise semântico-lexical. UFBA, 2007.Orientadora: Profa. Dra. Jacyra Andrade Mota.
📸 Créditos das Imagens: Arquivo da autora, vaqueiros de Teofilândia, acervo cultural popular







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