Montaria Jumental: um homem, um jumento e a sede de saber no sertão
- Agência Eco
- 29 de mai.
- 2 min de leitura

Imagine-se no sertão baiano da Velha República. Sem internet, sem estradas asfaltadas, sem escolas acessíveis. E, ainda assim, lá estava ele: o jovem Amerino Oliveira Lima, com sede de saber e um jumento como ponte entre seu sertão e os grandes centros de conhecimento do país.
📖 Uma herança cultural que resiste
Desde a chegada dos colonizadores portugueses, a cultura ocidental e cristã foi sendo enraizada nas novas terras — especialmente através das mães, dos padres e dos professores de primeiras letras. No sertão baiano, entre os Ferreira da Silva, surgiu uma dessas sementes que floresceu apesar da seca, da distância e da precariedade: Amerino, nascido na Fazenda Poço das Madeiras, bisneto do fundador da Vila do Raso (hoje Araci-BA).
👨🏽🏫 De decurião a autodidata
O jovem Amerino teve a sorte de ter um professor contratado pelo pai. No modelo do “ensino mútuo”, onde os mais avançados ensinavam os iniciantes, ele logo se destacou e assumiu a função de decurião. Finalizado o ensino primário, queria mais. Mas não podia estudar em Salvador ou no Rio. Então, decidiu aprender por conta própria — e aí começa a lenda da montaria jumental.
🐴 Conhecimento no lombo do jumento
Sem meios digitais ou correios regulares, Amerino criou seu próprio sistema: um estafeta com alforges de couro levava e trazia livros, jornais e revistas no lombo de um jumento. Os materiais vinham de Salvador ou do Rio de Janeiro. Ele os recebia como verdadeiros tesouros.
À luz de lampiões de querosene ou velas de sebo, lia e relia os textos — nem sempre fáceis de entender para um autodidata isolado. Mesmo assim, absorvia o conhecimento e o compartilhava com a comunidade, ganhando a alcunha de “o sábio do sertão”.
🐝 Ciência, política e saúde popular
Com esse saber construído a passos lentos, Amerino se destacou:
Pioneiro na perfuração de cisternas e plantação de palma;
Praticante de apicultura;
Influente político local, mentor da emancipação de Araci;
Considerado médico leigo, diagnosticava doenças e prescrevia tratamentos.
🌾 Uma inspiração do sertão
A história de Amerino não é só uma curiosidade do passado. É uma poderosa metáfora da resiliência sertaneja e da força transformadora do conhecimento. Em tempos de imediatismo e excesso de informação, sua trajetória nos lembra que o saber, quando cultivado com paciência e compromisso, tem o poder de mudar não só o destino de uma pessoa, mas de uma comunidade inteira.
📜 Texto original publicado no Jornal Diário da Manhã, em 07 de abril de 2015.
📝 Adaptação educativa para fins culturais no Sisal Cultural Interativo.






Comentários